A chuva cai, com o seu canto tão relaxantemente inquietante, propiciando mil e um pensamentos resumidos num só. Fecho os olhos e observo-te enquanto dormes o teu sono tranquilo protegido pela multidão de anjos a quem pedi a tua protecção. Estendo a mão para te acariciar o rosto, mas sou impedido pela parede de vidro invisível e, quiçá, inexistente.
Dentro de mim, a chuva traz-me um rio de pensamentos, agitando cada milímetro do meu ser, que se mantém paralisado sem conseguir reagir, por não saber como reagir, para onde reagir. Pairando, agito os braços e pernas, à procura do apoio do chão de que tanto preciso debaixo dos meus pés.
A chuva cai, olhando-me nos olhos em sintonia silenciosa, pois há tantos pássaros que desconhecem a maravilha de voar fora das suas gaiolas, mas outros que querem voar e não podem...
Corro, na tua direcção, mas sem sair do meu lugar pois não é permitido. Corro, na tua direcção, procurando tudo o que com um estalar de dedos alheio aparenta ter desmoronado, buscando as ligações que existiram e a cumplicidade de sonhos agora aparentando ser utópicos.
Amo-te, num segredo só meu, num silêncio ensurdecedor. Amo-te, num amor coberto pela paixão que tem de ser demonstrada em silêncio, fingindo-se indiferente... Fingindo-se forte... Mas tendo presente a assustadora dúvida do que existe e do que deixou de existir.
O sentimento existe, intacto, jurado, prometido... Eterno. A ligação, não sei. Temo que não. Assusta-me que não. Corrói-me que não.
A chuva cai, suavemente. Olha-me nos olhos. Obseva neles a graciosidade com que ela cai. Abraça-me, pois quero perder o medo de dizer o que quer que seja. Quero voltar a sentir a segurança daquela cumplicidade que sempre deixaste a tua insegurança ignorar.
A chuva cai, eu fecho os olhos, adormecendo enquanto te observo, enquanto observo a tranquilidade do teu sono belo, puro, alheio a todo o turbilhão que o rodeia.
